Linha do Tempo

O Movimento Diretista de Ensino de Línguas no Brasil

O ensino das línguas modernas na Europa no século XVIII era feito primordialmente com o Método Gramática e Tradução, seguindo o modelo de ensino do Latim e do Grego, ou seja, com a tradução antecipada de vocabulário e memorização indiscriminada de regras gramaticais. Entretanto, essa visão de ensino de línguas já não se adequava às novas tendências dos educadores da época, que passaram a dedicar-se aos estudos da fonética e a esboçar reações contra o método tradicional. Paralelamente, a sociedade industrial do velho continente exigia mudanças com vistas a um conhecimento prático dos idiomas falados. Segundo Chagas (1982), 'Essa interdependência de interesses e de idéias, que reclamava um contato mais direto entre os indivíduos de nações diferentes, aliada ao imediatismo característico da época da máquina, refletiu-se intensamente na pedagogia dos idiomas modernos.'

Esse descontentamento com a prática vigente da época, provocou o surgimento de idéias reformistas em vários países, as quais contribuíram para uma nova orientação no ensino de línguas. Dentre essas proposições vale salientar o uso constante do segundo idioma, a tradução como prática meramente ocasional, a gramática indutiva e a leitura de trechos escritos em prosa moderna (Chagas, 1935).

Destacam-se neste período, a influência dos trabalhos de Viëtor na Alemanha e François Gouin na França, criador das 'Series Gouin', nas quais defendia a aprendizagem direta do idioma estrangeiro. Designa-se dessa forma como Método Direto, o conjunto de tendências renovadoras de ensino das línguas modernas. E em 1902, a França seria o primeiro país a adotar oficialmente essa nova didática de ensino em seus programas de instrução pública.

No Brasil, em 1931, O Ministro da Educação e Saúde Pública, o Dr. Francisco de Campos, estabeleceu em sua reforma de ensino o sistema obrigatório do regime seriado tendo em vista a modernização do ensino secundário. Introduzia-se o curso fundamental, com duração de cinco anos e o complementar, de dois anos.

É nesse contexto, que o Método Direto foi instituído como método oficial de ensino das línguas vivas estrangeiras pelo Decreto n. 20.833, de 21 de dezembro de 1931. Em seu artigo primeiro ficava estabelecido que o ensino das línguas vivas estrangeiras (francês, inglês e alemão), no colégio Pedro II e estabelecimentos de ensino secundário, teria caráter eminentemente prático e seria ministrado na própria língua que se desejava ensinar. As noções gramaticais deveriam ser deduzidas pela própria observação e nunca apresentadas sob a forma teórica ou abstrata de regras; a aprendizagem deveria obedecer a seqüência de ouvir e falar, ler e escrever; a língua a ser ensinada deveria ser atual e corrente, fazendo pouco ou nenhum uso da língua materna e que o Método Direto deveria dessa forma ser adotado desde a primeira aula.

Seus principais defensores no Brasil foram o Prof. A. Carneiro Leão que publicou, em 1935, 'O Ensino de Línguas Vivas', no qual relata sua experiência com o Método Direto no Colégio Pedro II no Rio de Janeiro; e Maria Junqueira Schmidt, com seu livro 'O Ensino Científico das Línguas Modernas', publicado no mesmo ano.

Inúmeras foram as dificuldades de aplicação deste método em nosso país, dentre elas, a insuficiência de professores cuja formação lingüística permitisse tal prática de ensino e o limitado número de horas reservadas ao ensino do idioma foram fortes razões para a não implantação efetiva das Instruções de 1931 em nível nacional.

É inegável que a implantação do Método Direto como método oficial de ensino na reforma Francisco de Campos promoveu avanços e mudanças consideráveis na evolução do ensino de línguas estrangeiras em nosso país.