Ano 2 - Nº 2 - 1/2008

4. A origem do Inglês instrumental

Resumo:
O ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras como disciplina instrumental tem despertado no Brasil grande interesse nas últimas décadas. Um exemplo bastante convincente é a presença do English for Specific Purposes (ESP) em algumas universidades brasileiras, nas quais pesquisas sobre o ensino instrumental já foram institucionalizadas nos anos 70, principalmente através do Brazilian ESP Project coordenado pela professora Antonieta Alba Celani, da PUC de São Paulo. Ao longo desse artigo pretende-se apresentar a origem do Inglês Instrumental para que fosse conhecido o contexto de seu surgimento, e expostas algumas idéias que norteiam essa abordagem de ensino de língua inglesa que tem como objetivo principal capacitar o aluno a ler e compreender textos acadêmicos em inglês, usando estratégias e técnicas de leitura específicas dentro de um esquema de atividades de caráter autônomo.

Palavras-chave: Inglês Instrumental, ensino-aprendizagem, estratégias de leitura.

ABSTRACT: Foreign language teaching and learning as for specific purposes have raised great enthusiasm in Brazil in the last decades. An important example of it is the presence of English for Specific Purposes (ESP) in some of the Brazilian universities, which institutionalized researches about ESP teaching in the seventies, mainly through the Brazilian ESP Project coordinated by Professor Antonieta Alba Celani, in PUC - São Paulo. Throughout this paper we will present the origins of ESP, called here Inglês Instrumental, in order to understand the context in which it begins, and expose some ideas that guide this teaching approach which aims to enable students to read and comprehend texts in English using specific reading strategies within an scheme of autonomous activities.

Keywords: English for Specific Purposes (ESP), teaching and learning, reading strategies.

O ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras como disciplina instrumental tem despertado no Brasil grande interesse nas últimas décadas. Um exemplo bastante convincente é a presença do English for Specific Purposes (ESP) em algumas universidades brasileiras, nas quais pesquisas sobre o ensino instrumental já foram institucionalizadas nos anos 70, principalmente através do Brazilian ESP Project coordenado pela professora Antonieta Alba Celani, da PUC de São Paulo. O inglês é, porém, um caso singular, e a explicação para isso certamente pode ser encontrada na importância da língua inglesa no mundo moderno.

Historicamente o enfoque dado à leitura dentro do processo de ensino-aprendizagem de língua estrangeira tem variado de acordo com a corrente metodológica em voga. Até o final da década de 40, esse processo estava centrado na leitura e tinha por base o método do ensino da gramática e da tradução. A partir e por causa da Segunda Guerra Mundial, desenvolveu-se o método áudio-lingual baseado nas teorias behavioristas da época, com o propósito de ensinar línguas européias aos soldados americanos que partiam para o campo de batalha. No final dos anos 70, a abordagem comunicativa se firmou ativada por novos valores educacionais.

O inglês instrumental é conhecido como Inglês para Fins Específicos (ESP) e tem como objetivo principal capacitar o aluno a ler e compreender textos acadêmicos em inglês, usando estratégias e técnicas de leitura específicas dentro de um esquema de atividades de caráter autônomo. Embora o aluno seja o protagonista nessa concepção social de leitura, o professor também desempenha um papel de destaque como facilitador nesse processo de construção conjunta, pois caberá a ele acompanhar e auxiliar o aluno até que este assuma a responsabilidade pelo seu desenvolvimento demonstrando estar apto a realizar as atividades sozinho. A gramática é ensinada de maneira contextualizada, ajudando na compreensão de textos acadêmicos. O vocabulário trabalhado relaciona-se, principalmente, com a área de estudo do aluno.

2. O inglês instrumental no mundo

O Inglês Instrumental sempre existiu. Surgiu de maneira informal. Na antiguidade, por exemplo, nos impérios, a língua era usada com um fim específico. O de estabelecer as relações do dominante e do dominado.

Bloor (1997) cita um manual de 1415 destinado aos mercadores de lã ou produtos agrícolas. O mesmo apresentava muitas palavras técnicas da área da indústria de lã, o que nos remete aos tempos atuais, semelhante a um “curso de Inglês para negócios”.

Outra publicação citada pelo referido autor, surgiu na Inglaterra por volta de 1480 e inclui em sua introdução: ”Who with this book shall learn may well entreprise or take in hand merchandise from one land to another.” Esta publicação demonstra a preocupação com as necessidades do negociante que viajava e o inglês que seria utilizado.
No mundo moderno, o inglês instrumental se fortaleceu devido ao aparecimento de diversas correntes. A primeira foi denominada do “Mundo Novo”. Após a Segunda Guerra Mundial (1945), os EUA viveram uma grande expansão científica, tecnológica e econômica a nível internacional. A tecnologia e o comércio dominavam o mundo, o que gerou a necessidade de se padronizar uma língua internacional. Assim, o inglês passou a ser a língua universal, a chave de circulação internacional tanto na área tecnológica quanto comercial.

A segunda corrente, foi a da Revolução Lingüística. Os lingüistas passaram a enfocar a língua usada na comunicação real e o número de estudos sobre a leitura e seus múltiplos aspectos cresceu principalmente após o desenvolvimento da análise do discurso.

Os anos 60 foi o período em que o ESP se estabeleceu como atividade vital na área de ensino de inglês como L2.

De acordo com Swales (1995), o ano de 1962 marca o início do ensino de inglês instrumental no mundo moderno com a publicação do artigo “Some measurable characteristics of modern scientific prose” de Barber.

Neste período foram publicados os primeiros livros de inglês instrumental e a partir de então, muitos cursos surgiram pelo mundo. Órgãos como o Conselho Britânico e outros ligados a países de língua inglesa financiaram vários projetos que tinham como objetivo a consolidação do inglês instrumental como um curso imprescindível para atender interesses comunicativos específicos.

3. O inglês instrumental no Brasil

Historiado por Antonieta Celani (1983) o projeto de ESP – Inglês Instrumental - surgiu no Brasil de uma necessidade das universidades brasileiras no final da década de 70. Com o desenvolvimento das ciências e da tecnologia aumentou a necessidade de atualização constante de informações relacionadas a essas áreas e as dificuldades das traduções de publicações em tempo hábil. Muitos departamentos de inglês nas universidades brasileiras passaram a ser solicitados para ministrar cursos de inglês especializados nas áreas de ciências e tecnologia. Entretanto, esses departamentos encontravam-se despreparados para ministrar tais cursos, pois não haviam professores treinados e nem material didático específico para ser trabalhados em classe.

Essas dificuldades foram levadas à coordenadora do Programa de Mestrado em Lingüística Aplicada da PUC na época, Antonieta Celani, que começou a planejar o desenvolvimento do projeto em nível nacional. Com o apoio do Conselho Britânico, do Ministério da Educação e de lingüistas ingleses e americanos, sob a coordenação de Celani, foram realizadas várias pesquisas na época para se estabelecer as necessidades do Projeto. Os resultados demonstraram que o Projeto deveria basear-se no treinamento dos professores, na produção de material e na fundação de um centro de recursos em âmbito nacional. Hoje o CEPRIL – Centro de Pesquisas, Recursos e Informação em Leitura – coordena o elemento de pesquisa do projeto.

Desde então a disciplina foi incluída no currículo da maioria dos cursos universitários, priorizando principalmente, a habilidade de leitura no processo de aprendizagem através das estratégias de leitura para capacitar alunos de diferentes cursos a ler e entender textos acadêmicos referentes à sua área de atuação.

Além de estar sendo utilizado nas universidades, o projeto ESP vem sendo desenvolvido também em escolas técnicas, em cursos preparatórios para vestibular, de concursos públicos, em algumas escolas de Ensino Fundamental e Médio e também em cursos preparatórios para candidatos à seleção dos cursos de mestrado e doutorado no Brasil.

4. Considerações finais

Ao longo desse artigo foi apresentada a origem do Inglês Instrumental para que fosse conhecido o contexto de seu surgimento, e foram expostas algumas idéias que norteiam essa abordagem de ensino de língua inglesa. O inglês instrumental abrange o ensino de qualquer língua estrangeira com foco nas necessidades específicas do aprendiz por meio do uso da língua alvo para fins comunicativos, sejam em tarefas de compreensão oral ou escrita. Das quatro habilidades a serem desenvolvidas pelo aprendiz de língua estrangeira (ler, escrever, ouvir e falar) destacamos a importância da leitura por ser fundamental para o aperfeiçoamento das demais habilidades ganhando, assim, uma posição de destaque.

Com esse trabalho foi possível  chegar  a  algumas  considerações  a respeito do Inglês instrumental. Uma delas é que a abordagem instrumental tem preocupações eminentemente sociais, uma vez que ela vê o aluno como um ser integrado numa sociedade que nele determina necessidades mais ou menos explícitas para   aprender uma segunda língua; faculta-lhe as estratégias e habilidades necessárias para atingir seus objetivos, através da utilização do seu conhecimento de mundo, da sua capacidade de raciocínio  e do seu conhecimento lingüístico prévio; e proporciona amplas oportunidades de praticar e aperfeiçoar a sua capacidade de globalização.

Referências Bibliográficas:

BLOOR, M. The English language and ESP teaching in the 21st century. In: ESP In Latin America. F.MEYER, A.BOLIVAR, J.FEBRES, M.B.SERRA (eds.) Universidad de Los Andes. CODEPRE, 1997.

CELANI, M. A .A .et al. The Brazilian ESP Project: an Evaluation. São Paulo: EDUC, 1988.

SEDYCIAS, J. Ensino Instrumental de Línguas Estrangeiras. Disponível em Acessado em 10/10/2007.

SWALES, J. (1985) Episodes in ESP. Oxford: Pergamon Press.         [ Links ]

_________ (1990) Genre analysis - English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press.         [ Links ]