Ano 6 - Nº 6 - 1/2012

1. 1965/1975: Dez Anos de Linguística Aplicada no Brasil

Resumo
Este artigo é uma republicação que apresenta uma cronologia histórica de eventos que marcaram o surgimento, crescimento e fortalecimento da Linguística Aplicadano Brasil. O texto mostra tambéma cronologia de fatos, eventos e personagens nos dez primeiros anos da Linguística Aplicada (LA). Exibe, da mesma forma, uma introdução que explicita a importância da republicação do artigo para a história do ensino de línguas no Brasil, além de trazer um posfácio dialogado com o objetivo de atualizar e não deixar esquecida essa parte da história da LA no Brasil bem como a intenção de mostrar a inovação que essa disciplina trouxe principalmente para uma de suas áreas mais visíveis no Brasil, a do Ensino e Aquisição de Línguas (primeira e segundas). Além disso o posfácio expõe aspectos da carreira do autor que muito contribuíram para o surgimento e crescimento da LA no Brasil.

Palavras-chave: Linguística Aplicada (LA); ensino e aquisição de LE; história da Linguística Aplicada

ABSTRACT

This article is a reprint that presents a chronology of historical events that marked the emergence, growth and strengthening of Applied Linguistics in Brazil. The text also shows the chronology of facts, events and characters in the first ten years of the Applied Linguistics (LA). Displays in the same way, an introduction that explains the importance of the republished article for the history of language teaching in Brazil, besides bringing a postscript dialogued with the objective of updating the history and not allow this part of the history of LA in Brazil to be forgotten; as well intended to show how the innovation that brought this discipline primarily for one of its most visible areas in Brazil, Education and Language Acquisition (first and second). Besides the afterword exposes aspects of the career of the author who contributed significantly to the emergence and growth of LA in Brazil.

Keywords: Applied Linguistics, teaching and acquisition of FL, history of Applied Linguistics

POSFÁCIO DIALOGADO

Otexto do Professor Francisco Gomes de Matos é ele. Preocupado com a responsabilidade para com o público, interessado na humanização dos estudos da linguagem, pioneiro nas ideias e ações, empreendedor, internacionalista e pacifista. Tenho comigo que esse artigo é a certidão de nascimento da Linguística Aplicada no país. Na fotografia de nascimento da Associação de Linguística Aplicada do Brasil que guardo comigo, a ALAB, lá está o Prof. Gomes de Matos impávido, alegria estampada no rosto pelo passo que estávamos dando para a frente. Este artigo contendo uma pequena introdução à importante e majoritária parte do texto que constitui a cronologia de fatos, eventos e personagens nos dez primeiros anos de vida da Linguística Aplicada, seguida de uma pergunta e de um pensamento para concluí-lo é pura história. Por não estar mais disponível o importante periódico em que veio a público, a Revista Vozes, corríamos o risco de ter de aguardar muitos anosantes que alguém se deparasse com a pepita escondida. A Revista Helb é a única no país a se dedicar a aspectos históricos do ensino de línguas e da área acadêmica e profissional que a sustenta. História do ensino de línguas e história da teoria da aquisição e ensino de línguas são os seus focos e por isso nosso interesse em reaver para o público essa crônica preciosa que nos legou Gomes de Matos há exatos 45 anos. Para comprovar a sua teimosa criatividade e espírito inquieto, foi ele mesmo quem sugeriu a novidade de um posfácio dialogado que passamos a executar.

ALMEIDA FILHO: Prof. Gomes de Matos, obrigado por este intercâmbio revitalizador. Quero começar perguntando quem o introduziu à Linguística Aplicada, seu xodó desde sempre, salvo engano. Como era o cenário na grande área da Linguagem no Brasil e alhures à época da aparição do Centro Yázigi de Linguística Aplicada, em São Paulo, e por ocasião da composição deste texto em 1965, dez anos depois? Como eram e de onde sopravam os ventos inovadores?

GOMES DE MATOS: Fui atraído para a LA em setembro de 1955, quando fui aluno de Robert Lado, em um programa para professores de inglês na University of Michigan, co-patrocinado pelo IIE Institute of International Education e o State Department.  Na verdade, essa foi minha primeira bolsa para os EEUU.  Lado tinha uma maneira bem humanizadora de fazer LA, em parte, talvez, devido a sua formação cristã -- era católico praticante -- e a sua formação interdisciplinar (além de linguista, professor de inglês, tinha boa base em educação e psicologia). A motivação pela LA surgiu, assim, desse convívio inicial com ele na agradável cidade universitária de Ann Arbor.  Essa amizade se consolidou em 1959-1960, quando voltei à University  of Michigan (UM, para usar a sigla ) a convite de Lado, para fazer um Mestrado em Linguística e, ao mesmo tempo, trabalhar part-time no English Language Institute por ele dirigido. Para conhecer um pouco da influência de Lado no Brasil, recomendo a leitura de meu capítulo Lado's influence in Brazil, no volume Festschrift for Robert Lado2 - Scientific and humanistic dimensions of language, organizado por Kurt Jankowsky e publicado pela John Benjamins, 1985. O organizador é do Departamento de Alemão da Georgetown University.  Nesse volume também colaborou Clea Rameh, uma das pioneiras notáveis na área de Português para americanos.  Sou duplamente devedor a Lado: pela oportunidade de iniciar uma carreira de linguista aplicado e pelo desafio de ensinar Pattern Practice a alunos (de vários países) no ELI.  Lado era meu mentor (para usar terminologia atual) e, generosíssimamente, me deu outra oportunidade: começar um doutorado em Georgetown University, quando ele para lá se transferiu. Esse detalhe biográfico é pouco conhecido de meus colegas que também fizeram uma iniciação à LA na década de 60.  De fato, aceitei o convite dele e cheguei a iniciar duas disciplinas em GU, mas aconteceu um imprevisto acadêmico: o MEC incluiu a Linguística como disciplina obrigatória no Currículo de Letras e, como eu era o único docente na UFPE com grau de mestre, tive de regressar ao Recife e assumir a disciplina.  Além disso, colaborei como professor visitante de Linguística na UFPb em João Pessoa.  Não tivesse havido essa convocação de meu Reitor, quem sabe, eu teria continuado em Georgetown e não teria desempenhado o papel que estaria reservado para mim, no contexto brasileiro, como um dos introdutores da LA. Ao responder sua pergunta, quero lembrar também outra influência em minha decisão de abraçar a LA: Charles Fries.  No estágio feito em Ann Arbor em 1955 ,tive o privilégio de ser ouvinte na disciplina por ele ministrada: Introduction to Linguistic Science.  A amizade com Lado possibilitou que me aproximasse de Fries (engraçado como a geração atual desconhece a pronúncia do sobrenome e pensa que rima com fries em French fries, quando, na verdade, soa como freeze) e conhecer obras pioneiras do que hoje se chamariam respectivamente Corpus Linguistics (Cf. American English Grammar, de Charles C. Fries, publicada na década de 40, e The Structure of English, uma análise de fragmentos de inglês usado em conversação telefônica e precursora de Conversational Discourse Analysis , publicada, salvo falha de memória, na década de 50). Que pessoas impactaram fortemente em minha vocação para a LA?  Lado e Fries.

Que instituição me atraiu decisivamente para o aplicar princípios e procedimentos de LA?  A University of Michigan, principalmente através de seu English Language Institute, no qual cheguei a trabalhar na Testing and Certification Division. Também no ELI, prestei serviço à revista Language Learning que, naquela época, se identificava como Journal of Applied Linguistics. Você pode estar imaginando que tipo de trabalho eu fazia lá: ...surprise! Eu ajudava a empacotar exemplares dessa publicação pioneira. Claro que a experiência de estar no ELI alargou meus horizontes e me despertou para uma vocação adicional: produzir textos acadêmicos em inglês, sobre a LA. Assim, minha primeira review em inglês, foi publicada em Language Learning. De lá para cá, já perdi a conta das resenhas que publiquei, em inglês e em português (neste caso, intensamente, na revista DELTA, da PUC-SP). Bom, espero ter respondido sua primeira pergunta. Desculpe se me estendi demais, mas o assunto não podia ser resumido, sem prejudicar o direito do(a) leitor(a) de compreender.

ALMEIDA FILHO:  Como era o cenário na grande área da Linguagem no exterior e no Brasil à época? De onde sopravam ventos inovadores?

GOMES DE MATOS:  A resposta seria extensa, mas vou resumir e remeter a duas fontes. No período 1965- 1974, objeto de meu primeiro artigo na Vozes - há outro intitulado “Mais 10 anos de Linguística Aplicada no Brasil: 1975-1984, que entendo será republicado no próximo volume desta Revista HELB – os estudos sobre Linguagem tinham uma feição predominantemente estruturalista, graças à promoção dessa abordagem por linguistas norte-americanos atuantes nos EEUU e em outros países.  Assim, os linguistas aplicados brasileiros recorriam, predominantemente, a livros de estruturalistas. Claro que havia outras influências como a abordagem funcional, representada pelos escritos de M.A.K. Halliday e a notável visão interdisciplinar de Roman Jakobson (influência marcante na obra de Mattoso Camara Jr., principalmente na Fonologia). Para quem desejar aprofundar o conhecimento sobre a influência das concepções de Linguagem no Ensino de Inglês no contexto brasileiro, recomendo a consulta a meu livro (esgotado) Linguística Aplicada ao Ensino de Inglês (São Paulo, McGraw-Hill, 1976), ligeira reescritura de minha tese de doutoramento, defendida na PUC-SP e orientada pela extraordinária, pioneiríssima, Maria Antonieta Alba Celani. Nesse livro, formulo os princípios da Linguística naquela fase estruturalista e os relaciono às afirmações encontradas em manuais para professores de inglês de 15 países. O e-mail era, naquela época, a comunicação epistolar. Me correspondi com vários dos linguistas aplicados dos EEUU, da Inglaterra, da França, do Canadá e pude preencher lacunas na bibliografia sobre a influência da Linguística na Pedagogia de Línguas, principalmente do inglês. Naquela época, o cenário impactava nos estudantes de letras--alguns dos quais tornar-se-iam linguistas aplicados--como algo fascinante, provocador, inspirador e, acima de tudo, potencialmente aplicável em sala de aula. Ventos inovadores sopravam dos EEUU e da Inglaterra (as idéias dos linguistas aplicados desses países eram mais promovidas), mas também da Escócia (lembraria a pioneira School of Applied Linguistics, Edinburgh University). Um dia, quando alguém escrever uma História do Marketing das Idéias Linguísticas na Pedagogia de Línguas no Brasil, saberemos mais a respeito.

ALMEIDA FILHO: Que visões ou acepções de Linguística Aplicada podem abarcar todas as iniciativas citadas como pertencentes a essa área ainda tenra no Brasil a partir da introdução da Linguística Geral em 1962?

GOMES DE MATOS: Se considerarmos a LA daquela primeira década em termos dos princípios da Linguística imaginados aplicáveis, principalmente na educação em língua estrangeira e em língua materna, no Brasil, teríamos uma LA centrada nos seguintes princípios: A linguagem é estruturada. A linguagem é variável. A linguagem é social.

O primeiro princípio, de origem estruturalista, muito influenciou as propostas de ensino de línguas no Brasil, principalmente no que concerne aos tipos de exercícios (chamados, então, de estruturais) praticados em sala de aula.  O segundo princípio veio temperar um pouco o primeiro, na medida em que práticas estruturais eram consideradas também à luz da variação nos usos. Assim, co-existiam práticas com estruturas (predominantemente frasais, na época) e práticas de identificação de contrastes do tipo construção formal e construção informal.  O terceiro princípio, resultante ou derivado do segundo, levou o foco da pedagogia para o que hoje chamaríamos de natureza interativa ou interacional da linguagem. Recordo uma experiência de aplicação dessa Linguística estrutural-social: passei o verão estadunidense de 1966 em Austin, como um dos co-autores do livro Modern Portuguese - A Project of the Modern Language Association.  Além dessa co-responsabilidade autoral, era considerado uma espécie de consultor sobre usos do Português do Brasil. Assim, minhas idéias sobre variação social encontraram um espaço para aplicação e o continuum de formalidade passou a ser considerado pela equipe. Claro que esse modo de fazer Linguística Aplicada tinha se inspirado na Sociolinguística de meados de 60, revigorada com a inclusão do conceito dellhymesiano de competência comunicativa, do início da década de 70. Quem examinar meu Posfácio ao Dicionário de Linguística e Gramática do saudoso J. Mattoso Camara Jr. (7a.ed., 1977), ali encontrará estes conceitos-chave da LA da época: competência comunicativa; uso formal/uso informal/padrão. Também irá encontrar minha caracterização de LA (redigida em 1975): um dos grandes campos da Ciência da Linguagem. Tem por objetivo a aplicação de princípios, intravisões (insights), técnicas, resultados de investigação linguística à solução de problemas de natureza educacional e sócio-cultural. Vale acrescentar que, no referido Posfácio, também aparecem conceitos inspirados pela teoria transformacional da época: competência, desempenho (performance); estrutura profunda e paráfrase. Esse conceituário incluído em meu Posfácio ao DLG retrata, de certo modo, a busca de um ecletismo fundamentado no que a Linguística da época ofereceria para fins aplicativos educacionais.

ALMEIDA FILHO:  Que eventos significativos para a nascente Linguística Aplicada brasileira V. destaca no texto?  V. se lembra de algum outro evento que não mereceu menção no artigo?

GOMES DE MATOS: Dentre os eventos incluídos na Cronologia, destacam-se dois acontecimentos, ambos realizados em São Paulo: o V Simpósio do PILEI, Programa Interamericano de Linguística y Enseñanza de Idiomas (9 a 14 de janeiro) e o II Instituto Brasileiro de Linguística e III Instituto Interamericano de Linguística (15 de janeiro a 28 de fevereiro), na USP. O Simpósio do PILEI possibilitou uma motivadora interação entre linguistas brasileiros e colegas de países hispanofalantes das Américas Central e do Sul, dos Estados Unidos e do Canadá.  No Instituto oferecido na USP atuou um dos pioneiros canadenses em Terminologia (Ciência de Termos), o saudoso linguista aplicado Guy Rondeau, então chefe do Departamento de Linguística da University of Ottawa. Também integrou o corpo docente do II IIL o linguista aplicado Richard Barrutia (University of California, Irvine), que participou, de 1966-1970, dos trabalhos de criação do livro Modern Portuguese.  Encontros como o Simpósio do PILEI tiveram um papel duplamente estratégico: por um lado, promoviam tendências da linguística teórica e aplicada (refletindo o estágio de desenvolvimento dos dois ramos da Linguística nas três Américas e também na Europa) e, por outro, incentivavam novas vocações brasileiras em LA. Foi graças ao PILEI que pude partilhar meus conhecimentos em LA não apenas no Brasil (por meio dos Seminários Brasileiros de Linguística, mencionados na Cronologia), mas também no México (em memorável Instituto do PILEI realizado no Museu de Antropologia da capital mexicana, em 1968) e em Ottawa (no verão canadense de 1971).

Esses eventos interamericanos contribuiram também para aproximar os linguistas brasileiros até então mais ou menos enclausurados em suas universidades. Um exemplo: o primeiro encontro entre J.Mattoso Camara Jr., Aryon Rodrigues e este entrevistado se deu em um Simpósio Interamericano do PILEI realizado em Cartagena de las Indias, Colombia, 1963. Vale acrescentar que a atuação do Centro de Linguística Aplicada Yázigi (SP) foi bastante  fortalecida com o apoio do PILEI -- desde a fundação do CLA, em 1966, até o VIII Seminário Brasileiro de Linguística (UERJ, em 1974) co-patrocinado pelo Centro de que fui Diretor.

Você me pergunta se algum evento relevante foi omitido em minha Cronologia. Eu diria que, para o reconhecimento internacional inicial do trabalho que se fazia em LA no Brasil, a partir da criação do CLA-Yázigi, em 1966, um fato contribuiu: meu engajamento no então chamado AILA Bureau (a partir de 1969), uma comissão consultiva da Associação Internacional de Linguística Aplicada. Fiz parte desse grupo (constituído predominante de linguistas aplicados europeus, no início) e, sempre que possível, me empenhei em mostrar as potencialidades da LA no Brasil. Hoje, se verificarmos a contribuição de linguistas brasileiros à AILA, constataremos, com alegria, que nosso País já se fez representar na Diretoria daquela organização. Um exemplo inspirador: Marilda Cavalcanti, na Vice-Presidência da AILA. Que na Agenda dos Congressos internacionais da AILA já se reserve um ano para o Brasil. Se não me equivoco já temos a data de 2016 para a realização do encontro internacional da AILA no Brasil. Esse é um fato auspicioso para o reconhecimento da evolução da LA entre nós, quando celebraremos exatamente 50 anos dessa ciência aplicada no âmbito a Linguagem entre nós. Outro linguista brasileiro também atuante na Diretoria da AILA: Paulino Vandresen. Espero que esses exemplos bastem. Competirá a historiadores da LA no Brasil reunir informações que possibilitem uma visão minuciosa de como se vem construindo uma Linguística Aplicada que, em meu modo de ver, vai contribuindo humanizadoramente para o que hoje alguns chamam de Pesquisas Aplicadas sobre a Linguagem e as Línguas e, também meu viés, para uma Linguística Aplicada que caracterizo como da Paz.

ALMEIDA FILHO: Em seu artigo, há breve menção da fundação do CLA-Yázigi(SP), possivelmente a primeira iniciativa a registrar o nome da Linguística Aplicada no Brasil. Poderia comentar sobre o Centro e sua equipe à época?

GOMES DE MATOS: Com imenso prazer. Ao assumir a direção desse órgão bandeirante a 2 de março de 1966, encontrei à minha disposição três membros do que viria a ser minha equipe: Geraldo Cintra, Arnold Green Short e Sonia Biazioli. O primeiro, com quem mantenho comunicação eletrônica ainda hoje, tem seu lugar de destaquena história da LA no Brasil: foi dos primeiros a descrever o sistema fonológico do Português na revista Estudos (publicada até 1965 pelo então Departamento de Estudos e Pesquisas do Yázigi, sob a direção de Ernest Garon) e a fazer linguística contrastiva inglês-português. Após servir à LA no CLA, Geraldo foi partilhar sua competência na Universidade Federal de Viçosa e na USP. Destaque-se o papel primacial que ele teve como participante da reunião preparatória à fundação ABRALIN (no memorável Seminário Brasileiro de Linguística, realizado na FAFIRE, em Recife, em julho de 1969 e na reunião, no Auditório do SESC-SP, em janeiro de 1969, para a fundação da ABRALIN) e também como co-fundador e um dos presidentes do GEL, Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo. Green Short (de descendência britânica), foi um dos mais versáteis teacher-trainers que já conheci. Tinha formação em teatro. Foi responsável pelo boletim pioneiro Creativity-New Ideas in Language Teaching, lançado pioneiramente pelo CLA. Com ele partilhei a autoria do artigo When are our learners creative?, possivelmente o primeiro no gênero entre nós. Esse texto foi o embrião para meu livro Criatividade no Ensino de Inglês. A Resourcebook (SP,Disal,2004), publicado quase 30 anos mais tarde. Biazioli era responsável pelo setor de Português para estrangeiros no Yázigi. Com ela, dividi a autoria de Português do Brasil para Estrangeiros. Conversação, cultura e criatividade (2 volumes publicado pelo Yázigi, em 1977). Faço questão de ressaltar que o Ensino de Português para usuários de outros idiomas já era uma das prioridades do Yázigi, quando se fundou o CLA. Minha equipe recebeu mais dois competentíssimos colegas: Adair Palácio e Maria do Amparo Barbosa. Ambas, vindas do Recife. Adair tinha estudado em Indiana University. Amparo, na University of Michigan. Após atuarem produtivamente no CLA, Adair voltou ao Recife, onde, na UFPE, fundou o NEI - Núcleo de Estudos Indigenistas, atualmente sob a direção de Stella Telles. Adair comigo partilhou da autoria de um pequeno Guia para ajudar seu filho a aprender inglês. Uma espécie de orientação para pais sobre os benefícios do bilinguismo. Talvez outro tipo de pioneirismo editorial do CLA. Amparo prosseguiu em seu trabalho de linguista aplicada, ingressando na USP, onde atuou de maneira brilhante, dedicando-se à área de Linguística Inglesa.

Em suma, tive a felicidade de contar com uma dedicada, competente e inovadoraequipe. Com espírito de coesão e com muito amor à LA, atuamos juntos no planejamento e na coordenação da série de Seminários Brasileiros de Linguística, realizados em várias cidades. Mas, isso já é outra história, José Carlos.

ALMEIDA FILHO. Por último, gostaria de perguntar que sensação predomina em seu espírito de linguista aplicado nesse artigo sobre a década fundante?

GOMES DE MATOS: A sensação de que a criatividade de um pequeno grupo de linguistas aplicados brasileiros (aí incluindo-se os que tinham feito mestrado no exterior e os que tinham formação autóctone) possibilitou não apenas iniciar-se uma LA brasileira mas dar sustentação ao que, mais tarde, viria a institucionalizar-se por meio de programas de pósgraduação e da fundação da própria ALAB (Associação de Linguística Aplicada do Brasil). Assim, a LA no Brasil começou dinâmica, vibrante e voltada para nossas realidades. Uma história de sucesso.

Ao dialogar sobre meu artigo, posfaciando dialogalmente com um dos mais brilhantes e atuantes linguistas aplicados do Brasil - VOCÊ, José Carlos - quero fazer uma conexão entre aquela década e o que tenho vivenciado neste início de século. Assim, parecia que, após cumprir a missão de linguista aplicado fundacional, eu iria me aposentar de fato, quando, na verdade, após a aposentadoria compulsória pela UFPE, em 2003, teve início outra fase na vida deste linguista aplicado, mas, desta vez, voltada para a gênese e o desenvolvimento de uma Linguística Aplicada à Paz (Applied Peace Linguistics). Meu poster Linguística da Paz – Uma Cronologia, produzido pela ABA, Associação Brasil América, conta essa história adicional. A propósito de ABA, como um de seus co-fundadores, aqui no Recife, tenho podido aplicar outras idéias, outros insights, outras técnicas originárias da Linguística (e de áreas afins) tudo isso para que se demonstre que a Linguística Aplicada pode contribuir para o Bem, a Paz e a Dignidade Comunicativas da Humanidade. Quem quiser conhecer algumas de minhas aplicações atuais -- expressas por meio de pôsteres -- favor acessar www.estudenaaba.com e clicar em posters. Ali verá como a missão deste linguista aplicado continua, na maturidade, que a bondade divina me tem concedido. Que a PAZ COMUNICATIVA esteja sempre com você, caro(a) leitor(a) e com meu amigo posfaciador.

A entrevista com o Prof. Gomes de Matos recria o contexto de inovação que a Linguística Aplicada trouxe principalmente para uma de suas áreas mais visíveis no Brasil, a do Ensino e Aquisição de Línguas (primeira e segundas). A trajetória dele eu segui como testemunha ocular em muitos momentos da sua vida acadêmica e profissional: assisti à sua defesa de tese de doutorado na PUC-SP, ouvi-o da platéia, como aluno de pós-graduação, fazer a apresentação do psicólogo educacional David Ausubel em apresentação memorável sobre aprendizagem significativa no anfiteatro do SENAC, em São Paulo, aprendi lições de história da área com sua palestra de professor visitante ao Programa Pós-Graduação em Português, coordenado com tenacidade por Clea Rameh, na Universidade de Georgetown, em Washington,DC, em 1982, e reencontrei-o nas lides políticas para a preparação da fundação da ALAB no final dos anos 80 em Campinas (SP) e início dos anos 90 em Recife, quando fundamos com coragem, finalmente, a ALAB. 

O pretexto que tivemos para enlaçar o Prof. Gomes de Matos, hoje Professor Emérito da Universidade Federal de Pernambuco, foi a oportunidade e urgência de republicarmos o relato mais completo que já vi dos primeiros dez anos de produção na nova área da Linguagem que se implantava no país entre 65 e 75 do século passado. Ainda prevemos a publicação de seu segundo texto “Mais dez anos de Linguística Aplicada no Brasil” no volume 07 desta Revista HELB.  A vibração com essas iniciativas e com o que as motivava ainda estão absolutamente presentes e pulsando no depoimento lúcido e reconhecedor de Gomes de Matos, que neste número oferecemos como um presente da HELB aos participantes e militantes da Linguística Aplicada que se pratica no Brasil de hoje. Em 2016, por ocasião da realização do evento mundial da AILA no Rio de Janeiro, celebraremos meio século de presença atuante da LA no país. A leitura ou releitura deste texto de Gomes de Matos e do cenário rico que nos traz como posfácio criativo nesta edição da Revista HELB já antecipa o momento de avaliações e júbilo de um movimento consolidado que busca fazer a diferença no âmbito das práticas sociais construídas pela linguagem das quais o Ensino e Aquisição de Línguas se beneficia para o bem da sociedade brasileira.

Passemos agora ao texto original do autor que motivou esta iniciativa e diálogo.

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A Linguística ou Ciência da Linguagem foi incluída no Currículo de Letras em 1962 por força de um parecer do Conselho Federal de Educação. Três anos mais tarde, graças à iniciativa de uma entidade privada, especializada no ensino de línguas, introduzia-se a Linguística Aplicada em nosso País. Observamos, desse modo, que o Brasil tem sido privilegiado no que concerne ao desenvolvimento de dois campos que se interpenetram: a Linguística Teórica ou Geral e a Linguística Aplicada. A quase simultaneidade dos progressos alcançados nos dois campos, particularmente nos últimos cinco anos, é um fato auspicioso para a História das Ciências Humanísticas no Brasil. Convém enfatizar o que tanto no que diz respeito às Teorias quanto às Aplicações, o interesse primordial dos especialistas brasileiros que “fazem” Linguística está centrado no HOMEM.  Basta citar estudos promissores de Sociolinguística e de Psicolinguística já realizados em algumas universidades brasileiras – trabalhos ainda não divulgados – e pesquisas em andamento, para ter-se uma idéia de surgimento de uma Linguística Humana entre nós. À Linguística Aplicada cabe um papel importantíssimo, pois tem como objetivo a aplicação de princípios, técnicas e resultados das investigações teóricas sobre as línguas para a solução de problemas educacionais e sócio-culturais. Por tratar-se de uma atividade eminentemente humana, a Linguística Aplicada tem tido uma grande receptividade entre professores de língua portuguesa e de línguas estrangeiras.

A cronologia que se segue foi elaborada especialmente para a Conferência de Abertura do VIII Seminário Brasileiro de Linguística, promovido pelo Centro de Linguística Aplicada do Instituto de Idiomas Yázigi, com o apoio da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Associação Universitária Santa Úrsula, Fundação Técnico-Educacional Souza Marques e Secretaria da Educação do Estado do Rio de Janeiro, de 28 a 31 de julho de 1975. Ao leitor caberá julgar o impacto da Linguística na educação brasileira: os fatos a serem registrados, sem a pretensão de exaustividade, procuram demonstrar a vitalidade da Linguística Aplicada no Brasil.

CRONOLOGIA

1965

1º Seminário Brasileiro de Linguística: Rio de Janeiro, 12 a 23 de julho. Iniciativa do Instituto do Idiomas Yázigi, Patrocínio do Ministério da Educação e Cultura, Secretaria da Educação do Estado da Guanabara e Universidade do Brasil. Colaboração da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, Universidade de Brasília, Universidade de Recife, Universidade da Paraíba, Summer Institute of Linguistics e Colégio Júlio de Castilho (Porto Alegre). Coordenação geral de Laert Biazioli.  Cursos ministrados no I SBL: Histórias das Idéias Lingüísticas, por Joaquim Mattoso Câmara Jr.,  Apresentação de Técnicas da Linguística Descritiva, por Sarah Gudchinsky, e Orientação de Linguística Aplicada, por Francisco Gomes de Mattos.

Os conferencistas do Seminário pioneiro foram: Valnir Chagas, Aryon Dall’ Igna Rodrigues, Evanildo Bechara, Geraldo Cintra, Adazir Almeida Carvalho, Margot Levi Mattoso e Francisco Gomes de Mattos.

I Instituto Linguístico Latino-Americano, promovido em Montevidéu, de dezembro de 1965 a fevereiro de 1966, sob os auspícios do Programa Interamericano de Lingüística e Ensino de Idiomas (PILEI), da Associação de da Lingüística e Filologia da América Latina (ALFAL) e Universidade la República. Nesse instituto, de nível pós-graduado, houve um (re) encontro de brasileiros interessados em Lingüística Aplicada.

O PILEI exerceria, a partir de então, uma influência altamente benéfica ao desenvolvimento da Lingüística Geral e da Aplicada, em particular, no Brasil.

Elaboração de Levantamento em 1965 Sobre Ensino de Línguas Estrangeiras no Brasil, de autoria de F. Gomes de Matos, para a obra libero-American and Caribbean Linguistics. Vol. IV of Current Trends In Linguistics. Publicado em 1968 por Mouton & Co., Haia, Holanda.

A Influência do Museu Nacional (UFRJ): publicação de Introdução às Línguas Indígenas Brasileiras, de Joaquim Mattoso Câmara Jr., com um Suplemento de Pesquisa por Sarah Gudschinsky. À Linguista norte-americana coube a tarefa de abordar questões aplicadas de análise lingüística.

Distribuição a Professores e a Instituições de todo o País do último número de Estudos, Revista de Metodologia do Ensino de Línguas e Lingüística, publicação do Departamento de Estudos e Pesquisas do Instituto de Idiomas Yázigi. Essa publicação, pioneira no Brasil, teve início em 1962.

Um marco na Dialetologia Brasileira: a publicação de Atlas Prévio dos Falares Baianos, de Nélson Rossi (UFBA), sob os auspícios do Instituto Nacional do Livro-MEC.

Divulgação da ObraTeaching English in Brazil – Practical Linguistics and Methodology, de A. J. Hald Madsen (Rio: O Livro Técnico), em Seminários realizados por Centros Culturais Brasil-EEUU. Alguns desses Centros Binacionais têm, desde então, colaborado na promoção da Linguística Aplicada em Seminários para professores de inglês.

Publicação de Look and Speak English, de J. F. Mello (São Paulo: Editora do Brasil). Um dos primeiros livros de inglês para a escola secundária influenciados pela Lingüística Aplicada de base estruturalista.

1966

Fundação do Centro de Linguística Aplicada do Instituto de Idiomas Yázigi,a 2 de março, por recomendação do PILEI.

Lançamento de Estudos Linguísticos, Revista Brasileira de Linguística Teórica e Aplicada, sob a direção de Joaquim Mattoso Câmara Jr., Aryon Dall’ Igna Rodrigues e Francisco Gomes de Matos. Iniciativa do Instituto de Idiomas Yázigi.

2º Seminário Brasileiro de Linguística: São Paulo, 11 a 12 de julho. Iniciativa do CLA-Yázigi. Co-patrocínio do MEC, SEC-SP, Centro de Pesquisas Linguísticas da Faculdade Sedes Sapientiae (PUC-SP). A Diretoria deste último centro tem, desde então, propugnado por uma aplicação efetiva da Linguística ao ensino de Português.

I Seminário de Linguística de Marília: Marília, SP. 15 a 19 de agosto. A Faculdade de Filosofia de Marília tem estimulado os estudos de Lingüística Aplicada.

ALGUNS DEPOIMENTOS

O linguista peruano Alberto Escobar, ao fazer um balanço do estudo atual da Linguística na América Latina, na obra Trends in Ibero-American and Caribbean Linguistics (Mouton, 1968), afirma:

With regard to linguistics applied to education, what exists still leaves much to be desired, be it with regard to the teaching of the native language or of second languages. However, we cannot ignore the technical progress implied in the existence of institutions such as Buenos Aires Lenguas Vivas, the Yázigi Institute in São Paulo, and the recent Center for Applied Linguistics in the city (p. 625.

O linguista norte-americano Norman A. McQuown, no artigo “Applied Linguistics in a Broad Context”, na obra Linguistics in the 1970s, Washington: Center for Applied Linguistics, 1971, assinala: “Applied Linguistics has developed considerably throughout the world in the last decade. Among organizations involved are: the Center for Applied Linguistics, in Washington, the Centro de Linguística Aplicada of São Paulo, the British Council of London, the Bureau d’Étude et de Liaison pour I’Enseignement du Français dans le Monde of Paris, and the Sprachkybernetisches Zentrum of Heldelberg” (p. 25)

Artigo Tarefas de Lingüística no Brasil, de Aryon Dall’Igna Rodrigues (Estudos Lingüísticos: Vol. 1, nº 1), destacando as prioridades da Linguística Aplicada no Brasil.

Publicação de Artigo de Clea Rameh sobre aEntonação do Português do Brasil (Estudos Lingüísticos: Vol.1, nº 2) baseado em tese de mestrado defendida por aquela lingüista aplicada em Georgetown University, em 1962.  Até 1966, a maior parte dos brasileiros interessados em Linguística Aplicada (Augustinus Staub, Clea Rameh, Geraldo Cintra, Francisco Gomes de Matos) havia feito sua iniciação àquele campo através de estudos de gramática contrastiva.

Aparecimento de English Teaching – A regular bulletin for teachers of English in Brazil.Publicação do Conselho Britânico, Rio de Janeiro.

1967

3º Seminário Brasileiro de Linguística: Porto Alegre, 17 a 31 de agosto. Iniciativa do CLA-Yázigi. Co-patrocínio do MEC-PUC-RS, SEC-RS, PILEI.

1ª Instituto Brasileiro de Linguística: Porto Alegre, dezembro de 1967 a fevereiro de 1968. Patrocínio da UFRJ, PUC-RS e CLA-Yázigi.  Ministrou-se, na ocasião, o primeiro curso de Linguística Aplicada ao Ensino de Inglês (nível pós-graduado).

Na mesma época em que se realizava o I IBL, um brasileiro ministrava o primeiro curso de Linguística Aplicada no Exterior, por ocasião de II Instituto do Programa Interamericano de Linguística e Ensino de Línguas, Cidade do México.  O Prof. Gomes de Matos ministrou também Metodologia do Ensino de Inglês.

Publicação de Bibliografia Mínima Comentada sobre Linguística Aplicada, em Estudos Linguísticos, Vol. 2, n° 1 e 2, 128-132, por F. Gomes de Matos.

Publicação de Português em Bases Linguísticas, de Leodegário A. de Azevedo Filho, Jayr Calhau, Antonio Jesus da Silva e Luiz César S. Feijó. Rio: Nobre Gráfica Editora.

O CLA-Yázigi Representa o Brasil na International Conference on Second Language Problems – Heidelberg, 26-29 de abril. Contato com especialistas de outros Centros de Linguística Aplicada. Apresentação de relatório sobre Ensino de Línguas Estrangeiras no Brasil.

Realização da lll Summer for Teachers of English, promovida pelo Conselho Britânico, no Rio de Janeiro. A Linguística Aplicada teve lugar de destaque no referido programa, que congregou participantes do Brasil, Argentina e Uruguai.

A partir deste último encontro de âmbito sulamericano, o British Council, com o apoio de várias entidades locais – Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa, Secretaria de Educação e uma Universidade – tem promovido Regional Summer Schools em algumas capitais brasileiras (Rio, São Paulo, Recife, João Pessoa, Florianópolis).

1968

4° Seminário Brasileiro de Linguística: Recife, 22 a 26 de julho. Iniciativa do CLA-Yázigi. Patrocínio da UFPe, SEC-PE.

A Primeira Reunião para o Estudo da Fundação da Associação Brasileira de Linguística deu-se no Recife, a 24 de julho por ocasião do 4° SBL, tendo sido convocada por Joaquim Mattoso Câmara Jr.

1° Encontro de Linguística de Belo Horizonte: 17 a20 de abril. Iniciativa do CLA-Yázigi, com apoio da SEC-MG. Atenção especial à aplicabilidade da Linguística ao ensino de línguas e do vernáculo.

O primeiro livro brasileiro de Introdução à Linguística a registrar a utilidade dessa ciência para fins educacionais: Introdução aos Estudos Linguísticos, de Francisco da Silva Borba (São Paulo: Cia Editora Nacional): “A Linguística é útil... tem aplicação pedagógica, pois é grande auxiliar no ensino do idioma pátrio” (p.11)

Seminário de Linguística para Professores: 12 de março a 19 de novembro. Promoção do Centro de Estudos de Língua Portuguesa da PUC-RS. Ênfase especial à aplicação da Linguística ao ensino do vernáculo.

A Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Museu Nacional estabeleceram um curso de pós-graduação em Linguística. Dentre as áreas de concentração: Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguas.

1969

II Congresso da Associação de Linguística e Filologia da América Latina (ALFAL) em São Paulo: 3 a 8 de janeiro. Vários trabalhos sobre Lingüística Aplicada são apresentados por brasileiros.

V Simpório do Pilei: São Paulo, 9 a 14 de janeiro. Participação de brasileiros nos trabalhos da Comissão de Línguas Estrangeiras e de Linguística Aplicada.

Fundação da Associação Brasileira de Linguística a 9 de janeiro, em São Paulo.

II Instituto Brasileiro de Linguística e III Instituto do Pilei: São Paulo, 15 de janeiro a 28 de fevereiro. Cursos de Lingüística Aplicada ministrados por especialistas estrangeiros (EEUU, França, Canadá)

Apresentação de trabalho de Linguística brasileira no II Congresso da Associação Internacional de Lingüística Aplicada – Cambridge, Inglaterra, em 9 de setembro. Comunicação sobre Linguistic Claims in English Language Teaching, por F. Gomes de Matos, publicada em “International Review of Aplied Linguistics”. In Language Teaching, 1971, IX (3).

III Instituto Brasileiro de Linguística: Belo Horizonte, julho. Patrocínio da UFRJ, UFMG e CLA-Yázigi. Cursos de Linguística Aplicada.

1° Seminário de Linguística de Campinas: 23 a25 de maio. Patrocínio da PUC-Campinas, CLA-Yázigi e SEC local.

Fundação do Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo a 29 de janeiro, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Até esta data já foram realizados 13 Seminários em diversas cidades paulistas. No encontro mais recente (13-14/06/75), em Campinas, houve uma mesa-redonda dedicada à problemática da aplicação da Linguística ao Ensino de Português.

Primeiro Congresso Brasileiro de Língua e Literatura: Rio de Janeiro, 3 a 17 de julho. Realizado anualmente sob os auspícios da Sociedade Brasileira de Língua e Literatura. A Lingüística Aplicada ao Português tem tido destaque cada vez maior nos encontros.

1970

Funcionamento, a partir de agosto, do programa de estudos pós-graduados em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Programa credenciado pelo Conselho Federal de Educação e pelo Conselho Nacional de Pesquisas como “Centro de Excelência”. A coordenadora do Programa de LAEL é a Dra. Maria Antonieta Alba Celani, uma das figuras mais atuantes no campo da Lingüística Aplicada em nosso País.

4° Instituto Brasileiro de Lingüística: Salvador: janeiro e fevereiro. Co-patrocínio da UFRJ, UFBa, CLA-Yázigi.

Cursos de Linguística Aplicada ao vernáculo e a Línguas Estrangeiras.

5° Instituto Brasileiro de Lingüística: Niterói, julho. Co-patrocínio da UFRJ, Universidade Federal Fluminense. Cursos de Linguística Aplicada.

Publicação de Nova Análise Semântica, de Madre Olívia. Rio: J. Ozon Editor. A aplicação da análise semântica estendeu-se a um conjunto de cadernos de exercícios.

Publicação de A Estrutura Morfo-Sintática do Português (Aplicação do estruturalismo linguístico), de José Rebouças Macambira. Fortaleza: Imprensa da Universidade Federal do Ceará.

Publicação de Methodology and Linguistics for the Brazilian Teacher of English, de F. Gomes de Matos. São Paulo: CLA-Yázigi e Livraria Pioneira Editora.

1971

5° Seminário Brasileiro de Linguística: Vitória, Espírito Santo. Iniciativa do CLA-Yázigi e patrocínio da Universidade Federal do Espírito Santo e governo do Estado.

Realização de primeiro curso de Linguística Aplicada no V e VI Seminários do Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo: Faculdade de Filosofia de Assis (21-22/V) e Faculdade de Filosofia de Franca (15-16/X).

Aparecimento da Revista Littera – Revista para professores de Português e de literaturas de língua portuguesa. Dirigida por Evanildo Bechara. Rio: Grifo Edições. Littera tem publicado trabalhos que versam sobre aplicações da Linguística ao ensino de Português. O número 2 (maio-agosto de 1971) traz um artigo de Carlos Eduardo F. Uchoa sobre O valor dos Estudos Descritivos de Mattoso Câmara para o Ensino de Português.

Publicação no Brasil de um dos clássicos da Lingüística Aplicada: Introdução à Lingüística Aplicada, de Robert Lado. Rio: Editora Vozes.

Curso de férias ministrado por linguistas britânicos na Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa (São Paulo). Atenção especial às aplicações da Linguística.

1972

6° Seminário Brasileiro de Linguística: Brasília, 31 de julho a 3 de agosto. Iniciativa do CLA-Yázigi. Co-patrocínio do Centro Universitário de Brasília (CEUB) e da Associação Brasileira de Lingüística.

Primeiros Graus de Mestre em Ciências–Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguasconferidos no Brasil a Rita de Cássia Araújo Centola (Estudo das ocorrências da preposição COM) e a Marita Porto Cavalcante (Um estudo sobre a formação de TAGS-locuções confirmativas e interrogativas – em português), ambos pela PUC-SP.

Publicação da série Tempo de Escola – Cartilha e Livros de Leitura, segundo uma orientação linguística inspirada na teoria transformacional. São Paulo: Editoria Abril.

Publicação de A Linguística no contexto sócio-educacional brasileiro, de F. Gomes de Matos, pelo Instituto de Idiomas Yázigi S/C, São Paulo. Levantamento crítico da Linguística no Brasil de 1962 a 1971.

Tese de doutoramento sobre Análise contrastiva do constituinte auxiliar em português e francês e suas decorrências pedagógicas, por João Teodoro D’Olim Marote. Universidade de São Paulo.

Dissertação de mestrado sobre o Infinito flexionado em português: uma análise transformacional, de Euzi Rodrigues Moraes. UFRJ.

Uma das tentativas pioneiras de aplicação da Linguística ao livro didático de Português: Português Funcional, de João Teodoro D’Olim Marote. São Paulo: Cia. Editora Nacional.

1973

Publicação da primeira gramática brasileira a utilizar intravisões da teoria gerativo-transformacional para fins didáticos: uma teoria integrada da comunicação linguística:Introdução à gramática transformacional, por Nádia Vellinho Tondo. Porto Alegre: Sulina. 1ª edição.

6° Instituto Brasileiro de Linguística: Florianópolis. Patrocínio da Universidade Federal de Santa Catarina. O programa de Pós-Graduação em Lingüística, sob a Coordenação de Paulino Vandresen, tem estimulado os estudos de Lingüística Aplicada.

Publicação de um número especial da Revista de Cultura Vozes (n° 8) dedicado à sociolingüística: Panorama da Sociolingüística, com artigos de Paulino Vandresen, Maria Teresa C. Biderman, Ataliba T. de Castilho, Paulo A. Froelich, Dino Preti e Brian F. Head.

Primeiro Livro Brasileiro de Introdução à Lingüística a registrar o papel da Linguística Aplicada no Brasil: Introdução à Lingüística, de Leonor Scliar Cabral. Porto Alegre: Editora Globo.

Atenção crescente à Linguística Aplicada ao Ensino de Português na Revista Letras de Hoje. Redatores responsáveis: Elvo Clemente e Wilson Guarany. Publicação da PUC-RS.

Criação de um curso superior de letras e tradutores – com atenção especial à fundamentação linguística – Em São Paulo: Faculdade Ibero-Americana de Letras e Ciências Humanas. Um dos requisitos: Linguística Contrastiva.

Tentativa de registro da gíria brasileira: Dicionário da gíria brasileira, de Euclides Carneiro da Silva. Rio: Edições Bloch.

Tese de Doutoramento de linguista brasileiro sobre a influência de princípios da Linguística em manuais para professores de inglês como língua estrangeira.

F. Gomes de Matos, PUC. SP, 7 de dezembro.

Publicação de Comunicação e expressão em língua nacional. 5ª a 6ª séries. Amaro Ventura Nunes, Roberto A. Soares Leite. S. Paulo: Cia. Editora Nacional. Tentativa de aplicação de alguns conceitos da Gramática Transformacional.

Publicação de número especial da Revista de Cultura Vozes (N° 5) em homenagem a Joaquim Mattoso Câmara Jr: Estudos Linguísticos. Na coletânea, destaca-se o artigo motivador de Brian F. Head sobre A Teoria da Linguagem e o Ensino do Vernáculo.

Publicação de Construtora, Revista de Linguística. Língua e Literatura. Dirigida por Geraldo Mattos (Universidade Católica do Paraná). São Paulo: Editora F.T.D. O número 2 traz um artigo sobre Construturalismo e Ensino de Línguas, por Eurico Back.

APARECIMENTO DE TRADUÇÕES DE OBRAS DE PSICOLINGUÍSTICA

Introdução à Psicolingüística, de Jean-Michel Peterfalvi. São Paulo: Cultrix. Problemas de Psicolingüística, de Jean Piaget et alii. São Paulo: Mestre Jou. O interesse pela Psicolingüística, embora incipiente no Brasil, é promissor.

Publicação de Futebol – Fenômeno Lingüístico: Análise esportiva. Originalmente dissertação de mestrado(PUC-RJ). Maria do Carmo L. de Oliveira Fernandez. Rio: PUC e Editora Documentário.

Publicação da obra Metacomunicação, de Wilson C. Guarany e lone M, G. Bentz. 2ª edição publicada sob os auspícios do Curso de Pós-Graduação em Letras da PUC-RS.

Doutoramento de Milton Mariano Azevedo em Cornell Universitysobre tema de Lingüística Contrastiva: On passive sentences in English and Portuguese. Publicação de  Latin American Studies Program Dissertation Series, Cornell University. 190 p.

Doutoramento sobreDas orações subordinadas adverbiais na língua alemã. Contribuição para sua melhor compreensão por falantes de português, de Maurília Calati Gottlob. Faculdade de Filosofia de Marília, São Paulo.

Publicação de Yázigi Dictionary for Brazilian High Schools – English-Portuguese. Elaborado por equipe do CLA-Yázigi – London: Oxford University Press e São Paulo: Instituto de Idiomas Yázigi.

Publicação de livro didático muito influenciado pelo estruturalismo: Português – Treinamento Criatividade, de Carlos Maciel, Tarcísio Ferreira, Fábio Márcio, José Starling e Milton do Nascimento. Belo Horizonte: Editora Vigília.

Um autor registra a existência de um método da Linguística Aplicada ao ensino de línguas: “É muito difundido o método de Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguas Estrangeiras”. L. Megalle, English Patterns in Context. Manual do Professor (9). São Paulo: FTD.

Dissertação de mestrado sobre Habilidade de Expressão Escrita e Nível de Escolaridade, por Renira Lisboa de Moura Lima. Apresentada à Câmara de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Federal da Bahia. Trabalho influenciado por princípios da Educação e da Lingüística Aplicada. Um bom modelo daquilo que rigorosamente chamaríamos Lingüística Educacional.

1974

7° Seminário Brasileiro de Linguística: Curitiba, 10 a 13 de fevereiro. Iniciativa do CLA-Yázigi. Patrocínio da Universidade Católica do Paraná.

Publicação de Semiótica e Semiologia, n° 8 da Revista Vozes. Destacam-se o glossário de Semiótica, elaborado por Mônica Rector (PUC-RJ) e um artigo de Júlio Carvalho sobre a Semiologia no Brasil.

Aparecimento de tradução brasileira de outro clássico da Lingüística Aplicada: Psicologia e Ensino de Línguas (Original: The psychologist and the foreign language teacher), de Wilga M. Rivers. São Paulo: Cultrix.

Publicação de Sociolingüística: Os Níveis de Fala, de Dino Preti. São Paulo: Cia. Editora Nacional e Editora de USP.

Aparecimento da primeira obra exclusivamente centrada na aplicação da Linguística ao ensino de Português: Linguística e Ensino de Português, de E. Genouvrier e Jean Perytard: Tradução e adaptação de Rodolfo Ilari. Coimbra: Livraria Almedina.

Outra tentativa de aplicação da teoria transformacional a livro didático (Português): Língua e Cultura, 7ª e 8ª séries, por Raul J. M. Machado e Vera W. Pereira. Porto Alegre: Edições Tabajara.

Publicação da Revista Brasileira de Linguística sob a direção de Cidmar Teodoro Pais (USP). Redatora-Chefe: Mônica Rector. A RBL tem divulgado as dissertações de mestrado e teses de doutoramento em Linguística Geral e Aplicada. Petrópolis: Editora Vozes.

Publicação de teses de Lingüística Aplicada através da coleção Ensaios, Editora Ática, São Paulo. Dois exemplos: A Semântica Gerativa e o Artigo Definido, de Mary Kato; O Dialeto Caipira na Região de Piracicaba de Ada Natal Rodrigues.

Criação de um Centro de Lingüística Aplicada no Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Aparecimento da tradução de um dos clássicos da Linguística Aplicada: As Ciências Lingüísticas e o Ensino de Línguas, de M. A. K. Halliday, Angus Mc Intosh e Peter Strevens. Petrópolis: Vozes.

Criação de um Sub-Departamento de Lingüística Aplicada na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Influência do modelo transformacional na série Tempo de Comunicação. Orientação Metodológica e Linguística, de Ada Natal Rodrigues. São Paulo: Abril Cultura.

Tentativa de abordagem gramatical com base nos fundamentos da Linguística: Comunicação e Expressão em Língua Portuguesa, de Leodegário A. de Azevedo Filho et aliii. Rio: Edições Gernasa.

Autor de série didática adverte contra o perigo de levar-se o nome da Linguística em vão: “.. Lingüística Aplicada (campo que ainda está engatinhando no Brasil, limitando-se a ser, em muitos casos uma inútil troca de nomenclatura que leva a nada.)”. Dino Preti, Vamos Trabalhar. 5ª série, Edição do Professor, São Paulo: Cia. Editora Nacional.

Aparecimento dos primeiros volumes da série “Línguas e Culturas” (edições originais sob os auspícios da Associação Internacional de Pesquisas sobre Métodos Audiovisuais – AIMAV, Bruxelas) na Biblioteca Pioneira de Lingüística Teórica e Aplicada.

Lingüística e Ensino de Línguas Estrangeiras, de Marcel de Greve e F. Van Passel, e Princípios de Gramática Gerativa de Joseph Nivette.

Introdução à Gramática Gerativa, de Nicolas Ruwet. Tradução e adaptação de Carlos Vogt (Unicamp). A acessibilidade dessa fonte certamente contribuirá para o aprimoramento das gramáticas escolares em nosso País. Publicação da Editora Perspectiva, São Paulo.

Realização de um Simpósio de Linguística Computacional em Campinas, SP, sob o patrocínio da Universidade Estadual de Campinas – 24 e 25 de julho. No temário destaca-se: Aplicações de Lingüística em Computação. Participação de especialistas do exterior.

Tese de doutoramento de John R. Schmitz (PUC-SP) sobre A ocorrência de SER e ESTAR em orações predicativas e o ensino de Português a falantes de inglês.

Aparecimento de tradução de outro clássico da Lingüística Aplicada: A Metodologia do Ensino de Línguas, de Wilga M. Rivers. Tradução de Herminia Marchi. São Paulo: Livraria Pioneira Editora.

Publicação de Sintaxe Transformacional do Modo Verbal, de Leila Bárbara. São Paulo: Ática. Originalmente tese de doutoramento defendida, em 1971, na PUC- SP.

8° Seminário Brasileiro de Linguística: Rio de Janeiro, 28 a 31 de julho. Rumo a uma Linguística Educacional. Iniciativa do CLA-Yázigi com patrocínio da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (antiga UEG) e da Associação Universitária Santa Úrsula. Colaboração da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques e da Secretaria da Educação do Estado do Rio de Janeiro. Coordenação geral de Lúcia Biazioli.

Na década 1955-1965 alguns professores brasileiros fizeram sua iniciação profissional à Lingüística Aplicada através de cursos (Mestrado) em universidades do exterior, especialmente nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Atualmente, com a implantação de Programas de Pós- Graduação em Linguística e/ou Letras, as novas vocações estão sendo aproveitadas in loco – fato altamente significativo para o desenvolvimento dos estudos linguísticos no Brasil.

Na formação de especialistas em Linguística Aplicada, em nosso País, um aspecto deve ser enfatizado: a necessidade de uma base teórica ampla e diversificada ao invés de concentração exclusiva em um modelo lingüístico a fim de explorar-se, segundo um ecletismo pedagogicamente sensato, os princípios, os conceitos e as intravisões oriundos das várias abordagens ao fenômeno linguagem e às línguas.

E O PRÓXIMO DECÊNIO?

Que a década de 1975-1985 seja caracterizada por uma produtividade verdadeiramente efetiva, isto é, por uma atividade centrada em problemas educacionais prioritários como é o caso do seguinte programa a ser pesquisado por uma equipe dirigida por Miriam Lemle e Anthony J. Naro (UFRJ): “Comparação da competência Linguística evidenciada na língua falada por adultos em estágio de alfabetização incipiente com a competência que deve ser adquirida para a compreensão e produção de textos escritos de dificuldade média”.

PENSAMENTO FINAL:

Que no decênio 1975-1985 nossa Linguística Aplicada seja mais e mais Educacional. Para isso, é imprescindível que haja uma aproximação entre os especialistas em Linguística Aplicada e os da ciência-arte da Educação a fim de, juntos, contribuírem para uma maior eficácia do sistema educacional brasileiro.

Nota dos organizadores/editores

1.      O Prof. Dr Francisco Gomes de Matos é Professor Emérito da Universidade Federal de Pernambuco na qual atuou por muitos anos após os períodos de trabalho na PUC-São Paulo e Centro de Linguística Aplicada Yázigi durante os anos 60, 70 e 80.



2
      Publicada em 1985, a obra Scientific and Humanistic Dimensions of Language: Festschrift for Robert Lado celebra os setenta anos do pesquisador Robert Lado, da Universidade de Georgetown.Neste volume, o editor Kurt R. Jankowsky reune 60 artigos inéditos de 62 autores de diferentes instituições pelo mundo para prestar homenagem a esse pesquisador.